quinta-feira, 25 de junho de 2009

Perguntas de um trabalhador que lê

Quem construiu a tebas das sete portas?

Nos livros constam os nomes dos reis.

Os reis arrastaram os blocos de pedras?

E a Babilônia tantas vezes destruida,
quem a ergueue outras tantas?

Em que casas da lima radiante de outro
moravam os construrores?

Para onde foram os pedreiros na noite em que
ficou pronta a muralha da China?

A grande Roma está cheia de arcos de truinfo.

Quem os levantou? Sobre QUEM triunfaram os Céares?

A decantada Bazâncio só tinha palácios para seus habitantes?

Mesmo na legendária Atlântida, na noite em que o mar a engoliu,
os que se afogavam gritando pelos seus escravos.

O joven Alexandre conquistou a Ídia.

Ele sozinho?

César bateu os gauleses.

Não tinha pelo menos um cozinheiro consigo?

Felipe da Espanha chorou quando sua Amada naufragou.

Ninguém mais chorou?

Frederico II venceu a guerra dos sete anos.

Quem venceu, além dele?

Uma vitória em cada página.

Quem cozinhava os banquetes da vitória?

Um grande homem a cada dez anos.

Quem pagava suas despesas?

Tantos relatos.

tantas Perguntas.



quarta-feira, 24 de junho de 2009

Desconstrução

Nem todo conto contado encanta!

Nem todo canto cantado é recanto!

Nem toda verdade dita é bem-dita!

Nem toda face polida é pálida!

Mas toda palidez se mostra,

toda verdade bem-dita foi virada,

tudo que é canto se nota,

todo conto se esgota.

Então faça sempre você mesmo!

Pense sempre você mesmo!

E desconfie principalmente de você mesmo!

Desconstrua sua estrada!

desobstrua sua entrada!

Forçe sua mente!

Diga o que você sente!

Fuce de repente!

Viva e arrembente!

"Quando uma sociedade está organizada de tal modo que só promove o bem a uma parte de seus integrante, é um sinal de que ela está mal organizada e totalmente desviada dos objetivos que justificam a sua existência" (Dalmo de Abreu Dallari)



terça-feira, 23 de junho de 2009

Liberdade Eterna

Enquanto o dia passa, escutamos homens cabisbaixos esperando a noite chegar.

Enquanto a noite tece sua teia neblinosa e turva, olhos de gatos a espreitam e furteiam.

Enquanto as manhãs se levantam enchendo o mundo de luz, olhares se cruzam alheios.

Enquanto a vida passa vagarosamente e espinhosamente, beijos tomam lugares.

Enquanto a morte carrega o preço fatal da liberdade eterna, vidas se gastam, cegas.

Enquanto o amor suplanta o ódio e engole a realidade, a mentira guia o amanhecer subservientemente condicionado à verdade absoluta.

Quisera ter olhos de um falcão, deixaria de ser presa.

Quisera ter a velocidade de um puma, alcançaria o destino.

Quisera apenas ser ouvido, usaria voz divina.

Ontem eu era apenas menino, hoje eu sou apenas vivido, amanhã estarei removido e tudo passará despercebido.

Quem disse que a vida não é apenas um meio de encontrar a morte?

Quem disse que a morte é o único sentido da vida?

Quem disse que a vida é eterna, desconsiderou que o "antes da vida" ainda não foi
eternizado e tão pouco considerado.

Quem disse que a morte é um novo começo, não considerou que tal vida já foi começada, vivida e acabada.

Quer me dar a liberdade? Dê-me agora ou cale-se eternamente.




quarta-feira, 17 de junho de 2009

Ugolino Nunes da Costa

Eis o precursor da poesia popular no Brasil, é um dos primeiros poetas e cantador popular de que se tem noticia. Ugolino e seu irmão Nicandro são reconhecido pelos históriadores como sendo os dois primeiros poetas de cordel e cantadores do Brasil. Até hoje há decendentes deles no nordeste brasileiro e tenho a honra de ter como amigo no Orkut um membro dessa família diga-se de passagem muito inteligente, com quem consegui esses fragmentos do mestre Ugolino do Sabugi.


AS OBRAS DA NATUREZA
As obras da natureza
São de tanta perfeição,
Que a nossa imaginação
Não pinta tanta grandeza!
Para imitar a beleza
Das nuvens com suas cores
Se desmanchando em lavores
De um manto adamascado,
Os artistas com cuidado
Da arte aplicam os primores.
Brilham nos prados verdumes
De um tapete aveludado,
Brilha o rochedo escarpado,
Das penhas seus altos cumes;
Os montes formam tais gumes
Que a gente, os observando,
Vê como que se alongando
Perde-se na imensidade,
A nossa visibilidade
Os perde se está olhando.
Correndo as águas se arrastam
Tornando-se brancalhetes
E mui lindos ramalhetes
De espumas que as águas gastam.
Fugindo logo se afastam
Esses mantos de brilhantes:
São pérolas lindas galantes
Que a cachoeira as atrai,
E esta, murmurando vai
Nos chamando ignorantes.

Grandes cousas se dizia.

Só de um bosque se falando,

Mas apenas vou tocando

No que tem mais poesia,

Como a sombra que alivia

A natureza agitada!

Como a relva aveludada

Que posta em duas fileiras

Se estende nas ribanceiras

Da fonte cristalizada.

Um prado em seu verdume

Semeado de mil flores,

Com suas variadas cores,

Exalando seu perfume,

Qual o homem que presume

Pintar a tanta beleza,

Porém, toda essa grandeza,

É de Deus um privativo,

Que como sábio e ativo

Confiou-a à natureza.

Impera sobre um penedo

A águia que ali habita,

De natureza esquisita

Dominando o alto rochedo

É ave que não tem medo;

Por sua coragem impera!

Desdenha de qualquer fera

Com arroubo desmedido,

Atordoa e faz temido

Tudo quanto ali prospera.